A jornada de muitos creators pretos começou solitária. Com cada vez mais influenciadores ganhando voz nas plataformas digitais, há uma importância crescente de referências e representatividade para catalisar a presença no escopo da diversidade e, consequentemente, atrair o olhar das marcas.
“Nós não somos a minoria, pelo contrário. As marcas agora estão começando a entender como podemos trabalhar, de fato, de uma maneira verdadeira e genuína”, afirmou Thamirys Marques, gerente de operações da Digital Favela, frente ao dado da parcela da população que é negra – segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 56% dos brasileiro se autodeclaram como pretos e pardos.
Entre os desafios de fazer o elo entre creators com recorte de raça e classe e marcas, ela citou a necessidade de defesa diária e esforço duplicado para mostrar para marcas a necessidade e efetividade de ações com esses criadores de conteúdo. A influenciadora Luana Carvalho salientou ainda que há um desafio relacionado a mostrar aos anunciantes que pessoas negras não existem apenas dentro de um padrão conhecido, mas que também são trans, gordas, PCDS, entre outros. “Minha subjetividade ainda é mais questionada, porque não sou o corpo que vende”, declarou.
Dentro deste escopo, ela defendeu uma criação de conteúdo voltada para reafirmar que dentro da negritude também há diversidade. “Ainda que estejam ocupando espaços, é ainda um só tipo de pessoa preta que está ali [nas publicidades]”, endossou Luana. Deve haver, ainda, um cuidado da parte de marcas para que o creator e influenciador preto não seja parte de ações estereotipadas, como lembrou Ad Junior.
O empresário destacou, ainda, que creators pretos não devem ser vistos apenas como porta-vozes de temas de diversidade e inclusão, mas, sim, de toda e qualquer temática: “Minha maior inspiração era a vontade de ver mais gente falando sobre vários assuntos, por que somos diversos”. Ele fez o apelo para que o público apoie e normatize vivências a fim de criar um mundo potente em um futuro cada vez mais igual.
Diversidade digital
Recentemente, a maior parte das plataformas digitais anunciou a venda de selos de verificação – o que garante certa credibilidade a, nesse caso, os influenciadores. Ad Junior remonta ao sistema em que o tipo de sistema foi criado nas redes sociais: por brancos, para, em grande parte dos casos, credibilizar outros brancos.“Quando pensamos em como foi criado o acesso a tecnologia, há três perguntas: quem construiu? Por que construiu? Para quem construiu?”, indagou à audiência.
Agora, ainda que haja uma aspiração à democratização dos selos, a tratativa como venda de serviço gera implicações conceituais e de acesso. Anteriormente, diversos critérios deveriam ser atendidos para a conquista da verificação. Contudo, pessoas negras dificilmente se enquadravam e atendiam aos requisitos impostos pelas grandes empresas. “O que isso mostra para nós, como criadores negros, que estamos tentando gahar um espaço e não conseguimos o verificado por mérito, por reconhecimento da plataforma do nosso trabalho?” questionou Luana.
Profissionalização e mercado de trabalho
Para além do aumento da consciência de marcas sobre o trabalho com creators pretos, há o outro lado da moeda quando o assunto é profissionalização. Thamyris apontou que costuma encarar certas dificuldades ao trabalhar sobretudo com criadores de conteúdo menores e recém lançados, que não tem acesso a informação sobre o processo de trabalho por meio do uso de emissão notas fiscais e abertura de CNPJ, por exemplo. Para isso, a Digital Favela trabalha no preparo de um manual de boas práticas com o objetivo de profissionalizar este grupo.