O que é NFT? Conheça a nova tendência bilionária para colecionadores.
Itens virtuais criados com blockchain são leiloados por milhões de dólares e apontam a inovação para o mercado de coleções, artes e games.
A tradicional galeria Christie’s realiza cerca de 350 leilões anualmente. São mais de 80 categorias em diversas áreas, como jóias, vinhos e artes. E agora, pela primeira vez, o leilão de um item virtual. A peça “Everydays: The First 5000 Days”, de Mike Winkelmann, será a primeira obra de arte em NFT a ser negociada na tradicional casa britânica. Ela já recebeu 124 ofertas de compra. A mais alta delas chega a US$ 3 milhões.
A imagem digital é uma colagem dos 5 mil primeiros desenhos feitos pelo artista, que usa o nome Beeple. O que torna ela tão especial é se tornar um marco definitivo na disrupção do mercado de leilões de arte, onde a procura por NFTs tem crescido exponencialmente e criado uma alta demanda de artes exclusivas baseadas na blockchain.
Mas o que é NFT?
NFT é a sigla para “non-fungible token” ou “token não fungível”, em tradução literal. Basicamente, um NFT é um item virtual único, que não pode ser substituído, destruído ou copiado e tem autenticidade comprovada através de informações registradas na blockchain – a mesma tecnologia usada em criptomoedas como Bitcoin e Ethereum. Mas, diferente delas, um NFT não pode ser trocado diretamente entre pessoas.
Um NFT pode ser usado de diversas maneiras, como negociações de compra e venda de itens reais e até investimento. A vantagem da tecnologia é que ela é totalmente rastreável até sua origem, impossibilitando falsificações ou cópias.
“Pela característica de não serem fundíveis, como é por exemplo o dólar, ouro, etc., os NFTs carregam uma história rastreável, imutável, e única de um ativo, tornando-o inconfundível. Esta característica traz à tona o valor para, por exemplo, uma peça de arte registrada na blockchain, na qual se garante a originalidade como maior ativo”, explica André Salem, fundador da Blockforce e especialista em inovação social blockchain.
NFT vira arte
Dá para imaginar que o caráter único de itens em NFT geraram um grande interesse na criação de obras exclusivas, chamadas crypto arts. Elas vão desde tênis virtuais, passando por cards colecionáveis e chegando até a vídeos de jogadas de basquete. A ideia é que cada peça, além de única, cria uma conexão direta com seus criadores.
A cantora e artista Grimes (que é casada com Elon Musk, outro entusiasta da tecnologia blockchain) criou uma série de 10 videos (alguns únicos e outros com milhares de unidades) que foram oferecidos diretamente para seus fãs. Algumas das peças chegaram a ser vendidas por US$ 7.500. No total, 700 peças alcançaram um valor total de US$ 5,18 milhões.
NFT + NBA
Um exemplo de NFT lucrativo carrega uma marca de peso. A plataforma Top Shot foi criada pela NBA em parceria com a startup Dapper Labs e é especializada em negociar NFTs de jogadas da liga em vídeos de 10 segundos. Uma edição com um lance do astro LeBron James, por exemplo, foi vendida no início de março por US$ 208 mil.
Segundo a Dapper Labs, atualmente a plataforma conta com mais de 100 mil compradores. Em apenas cinco meses, as vendas atingiram cerca de US$ 250 milhões. O site Momentranks, dedicado a cobrir as movimentações de NFTs da Top Shot, diz que ela representa um valor de mercado de mais de US$ 1,5 bilhão.
Com o sucesso da ação, a consequência é ainda mais popularidade para a tecnologia. “Com a utilização dos NFTs para representar obras digitais que se relacionam a grandes mercados tradicionais populares, como por exemplo o basquete, os NFTs impulsionam o conhecimento e utilização da tecnologia pelas pessoas”, avalia Salem.
Memes milionários
Lembra do clássico vídeo do gato-arco-íris que voa no espaço? Conhecido como Nyan Cat, ele vai completar 10 anos em abril e, como comemoração, uma edição em NFT foi feita pelo seu criador original, Chris Torres. O leilão aconteceu em 18 de fevereiro e o gif foi arrematado por um comprador anônimo por valor em Ethereum equivalente a US$ 590 mil.
É difícil dizer se a NFT Art é o futuro da arte. Uma levantamento do Criptoart.io (plataforma especializada em rastrear vendas de crypto art) aponta que o mercado total já tem um valor acima dos US$ 100 milhões. Porém, a grande maioria das negociações ainda representa nichos culturais ou movimentos especulativos, como foi o caso da venda do “Homer Pepe”, parte de uma coleção de cards de meme que foi vendido inicialmente por US$ 39 mil em 2018 e, em 2021, revendido pelo equivalente a US$ 310 mil.
Outro meme que recentemente marcou seu espaço na historia das artes em NFT foi o famoso Disaster Girl. A imagem da criança de olhar enigmático e sorrisinho nos lábios foi leiloado no site Faoundation por 180 ETH, o equivalente a US$ 480 mil. A venda foi feita por Zoe Roth, a própria menina, que hoje tem 21 anos.
Um setor que certamente deve tirar muito proveito dos NFTs é o de games. “Os ativos unicamente virtuais (bem como skins e cartas), que já representam grande valor monetário, será muito beneficiado pela rastreabilidade e originalidade. Imagina poder ver que determinado pró-player utilizou aquela skin, única como é? NFT vai trazer uma explosão de valor para isto. Forte sinal disso é a recente parceria da Ubisoft com a Sorare, plataforma de NFTs baseada na rede Ethereum”, analisa André Salem.
O NFT segue o mesmo caminho do Bitcoin. Ele pode não ser exatamente o futuro, mas certamente é mais um sinal de como apenas começamos a explorar todos os potenciais da digitalizacão e da virtualização. E uma coisa é certa: essa disrupção não vai parar.