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Cannes Lions: Houve falta de diversidade racial?

A organização do Cannes Lions anunciou a lista de jurados da edição de 2022 do festival internacional de criatividade, que será realizado entre os dias 20 e 24 de junho na Riviera francesa, no último dia 28 de abril. Mas a falta de diversidade racial na escolha dos 24 representantes brasileiros foi questionada por coletivos e profissionais que integram a indústria de publicidade e comunicação no Brasil.

Dos 24 representantes brasileiros escolhidos para compor o time de jurados de todas as categorias do festival, há apenas um profissional negro, Angerson Vieira, diretor criativo da Africa. 

Na última quarta-feira (4), uma carta endereçada a Simon Cook, CEO do festival, questionava por que o Cannes Lions 2022 “não conseguiu selecionar um time de jurados brasileiros” que refletisse a composição racial do país. 

Na mensagem, que tem versões em inglês e português, com assinatura do coletivo Papel & Caneta, com apoio da Chapa Preta, do hub criativo Auê e do conselho do coletivo Publicitários Negros, o grupo questiona “por que entre os 24 jurados brasileiros escolhidos para o Cannes Lions deste ano, apenas 1 pessoa é negra?”

A carta ressalta que, apesar de provavelmente a maioria dos criativos brasileiros conhecidos por Cook serem brancos, mais da metade da população brasileira é negra. “Entendemos que não é uma tarefa fácil selecionar um júri e que muitos fatores precisam ser considerados, mas nós, como indústria, estamos com pressa para realizar as mudanças urgentes que estão nos impedindo de construir esse futuro inovador. Não podemos ficar calados diante da falta de inclusão e representatividade que é hoje um dos maiores motivos – se não o maior – de atraso da criatividade do Brasil e de toda a sociedade”, diz o documento.

O texto ainda pondera que as indústrias criativas e publicitárias no Brasil fizeram um imenso progresso nos últimos anos quando se trata de inclusão e empoderamento de profissionais criativos negros. “Seria uma pena que uma organização internacional como o Cannes Lions não igualasse esse progresso na seleção do júri”, lamentam os autores da carta. 

Segundo a organização, o festival de 2022 reunirá as “mentes mais criativas do mundo” para abordar a falta de representação na indústria globalmente. Mas, apesar da programação deste ano tratar de temas considerados “prioritários”, como diversidade e inclusão, a escolha dos jurados brasileiros não foi pautada com o olhar para a diversidade racial.

Em resposta ao site Propmark, a organização do evento explicou que “a atual composição do júri reflete a indústria”. A nota diz ainda que o evento, no entanto, reconhece “o papel na formação da agenda em torno da DEI [diversidade & inclusão] e na promoção de uma maior diversidade na indústria.”

“Temos trabalhado com uma consultoria especializada em inclusão para revisar todos os processos sob a ótica da diversidade, equidade e inclusão. Este é um programa de trabalho contínuo que fará com que nossos júris sejam mais representativos da sociedade, ano após ano”, complementou.

Falta de diversidade já foi questionada em 2021

Mas essa não é a primeira vez que o evento é alvo de críticas por falta de equidade, diversidade e inclusão. Em 2021, textos escritos por Abraham Abbi Asefaw, cofundador da The Pop-Up Agency e atual chairman da LW, levaram o Cannes Lions a pedir desculpas publicamente. 

Nas publicações, Asefaw contou que foi reitor da Roger Hatchuel Academy, academia de formação que ocorre durante a semana do festival Cannes Lions, por cinco anos. Ele relatou que, após ele e o outro reitor terem rompido a parceria, escreveu à organização do Cannes Lions e sugeriu que eles escolhessem um único reitor ao programa e que fosse uma pessoa não-branca. Mas não foi isso que aconteceu. 

Nas mensagens postadas, Asefaw esclareceu: “Fui removido da função de reitor do Cannes Lions School. Todos os reitores da lista são brancos. Sim, até na Roger Hatchuel Academy – o lugar de mais diversidade do Cannes Lions.”

Na ocasião, ele disse ainda que: “Eu posso lidar com o fato de não continuar como reitor, apesar de mais de uma década de longo compromisso com a organização e de ter sido seu consultor para qualquer assunto relacionado à diversidade. Mas, o que não consigo lidar é com o fato de a próxima geração de criativos, de todo o mundo, terem uma representatividade menor por causa de uma solução rápida.”

Após o texto ter repercutido nas redes sociais, o próprio festival de criatividade respondeu aos comentários de Asefaw em seus perfis oficiais no Twitter e no Instagram. “Estamos tratando de tudo o que Abraham Asefaw disse de maneira intencional e recebemos bem as críticas para poder garantir que erros como esse não voltem a acontecer. Entramos em contato com ele, mas queremos oferecer-lhe um pedido público de desculpas. Trabalhamos com Abraham por mais de dez anos, e, se ele quiser se comunicar conosco no futuro, ficaríamos mais do que felizes em trabalhar novamente com ele e com outras pessoas para assegurar que não apenas busquemos por diversidade, inclusão e equidade, mas que alcancemos diversidade, inclusão e equidade. Esse é um momento particularmente decepcionante para nós do Cannes Lions, pois a organização tem tido orgulho em incrementar a diversidade nos painéis, entre os jurados e talentos. ”

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